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As três lá estão, no céu. Maysa e Ariclê, amigas de verdade. A Frida, de coração.
Maysa era filha de um amigo de meu pai, Alcebíades Monjardim. Encontramo-nos no Jockey Clube de São Paulo, uma tarde de domingo, por volta de 1953. Lá estávamos acompanhados por nossos pais. Embora ela fosse quatro anos mais velha do que eu, naquela tarde conversamos muito. Uma tarde de sol puro no passar da qual falamos de poesia. Momentos que reaparecem frequentemente para mim.
Ariclê veio a Tania e a mim anos depois. Participava da gravação de uma novela da TV Globo em Tiradentes e a recebemos em nossa casa, em 2003. Ficamos amigos e nos encontramos algumas vezes em São Paulo. Nossas conversas - ela, Tania e eu - eram ótimas. Giravam em torno do teatro e da literatura, relembrando uma noite marcante, no Teatro Ruth Escobar, final dos anos 1960. Eu advogava para alguns atores lá reunidos, o chamado CCC na porta fazendo ameaças e Fernando Torres, serenamente, tentando nos acalmar.
Por conta disso, no final de março de 2006, Ariclê telefonou-me para dizer que marcaria um encontro nosso com uma amiga sua, Maria Adelaide Amaral. Eu então trabalhava em Brasília, naquele tribunal, e ela escolheria um final de semana para nos encontrarmos. Mas três ou quatro dias depois, ela se foi ao encontro - tenho certeza - do seu grande amor, Flávio Rangel, que partira para o céu em 1988.
Não nos vimos então, mas o mundo dá voltas. Há uns três meses, estivemos juntos, eu e a Maria Adelaide, na Academia Paulista de Letras. Treze anos depois, deu-se o encontro que Ariclê planejara. Ela também estava ali, tenho certeza. Como se nos abraçássemos, nós três.
A vida é assim. Não pode ser ou vir a ser, a vida é maravilhosa. Sobretudo quando realidade e ficção se enlaçam. O que aconteceu conosco em Paris, Tania e eu, em 1988, foi formidável.
Caminhávamos pelas margens do Sena e, de repente, uma loja de quadros, sofisticada, nos encantou. Entramos e uma mulher nos olhava desde uma tela, tristeza, alegria, serenidade e aflição superpondo-se em seus olhos. Era ela, Frida Kahlo, seu autorretrato!
Aquele era outro tempo, especialmente em termos de moeda. O euro não existia. Tempo de flores que nos permitiu a compra de um pequeno apartamento na velha Lutèce, que hoje chamamos Paris, na segunda metade dos anos 1990, por uma quase bagatela. O preço da tela, no entanto, era inacessível para nós. Mais do que isso, hoje estamos convencidos de que aquela não passava de uma reprodução, uma cópia bem elaborada do quadro de Frida.
Dizem que me repito muito, mas o fato é mesmo que o tempo não para no porto e nossas amigas permanecem conosco! Preciso apenas de mais alguns anos para contar minhas estórias e histórias!